sexta-feira, 21 de setembro de 2012

O cachorro que desapareceu



Eram quatro amigos.

 Cresceram juntos, estudaram na mesma escola, moravam perto um do outro; e ali naquelas ruas esburacadas da pequena cidade do interior, formaram aquele laço de cumplicidade que só os jovens conseguem formar.

 O quinto do grupo era Tupã, um desses cachorros grandões de raça indecifrável, com pêlo espesso e orelhas tristemente caídas, que aparecera ninguém sabia de onde e se instalara nos fundos da casa de Pedro. Pedro era o mais velho do grupo, e apesar da relutância inicial, apegou-se ao cão rapidamente.

 Fazia calor na tarde de janeiro em que Pedro apareceu na casa de Renato, sem seu fiel escudeiro do lado.

 - Cadê o Tupã? – estranharam os amigos.
 - Não vi ele hoje ainda. Deve estar atrás de alguma cadelinha por aí...- maliciou Pedro.

 Mas, para desespero do grupo e comoção de todo o bairro, Tupã não voltou mais naquele dia, e nem nos dias mormacentos que se sucederam naquele mês claro e ao mesmo tempo terrível.

 Tupã sumiu.

 Não deixou carta de despedida, desapareceu sem dar o seu latido de adeus, sua lambida derradeira, sua última fungada no canto da casa.

 Com o tempo Tupã foi esquecido, virou uma daquelas lembranças boas, mas distantes; daquelas que a gente se pergunta se realmente aconteceram, como um amor de verão.

 Todos esqueceram Tupã, menos Pedro.

 Em cada um dos milhares de cachorros que Pedro via em sua vida, todos tinham pelo menos algum traço de Tupã, todos eram também, de alguma forma, o seu Tupã, o seu amigo leal que havia desaparecido para nunca mais voltar.

 Foi assim por muito tempo, até o dia em que a namorada chegou em casa mais cedo, sorridente. Trazia consigo uma surpresa. Um pequeno poodle preto, com ar amedrontado, que parou na entrada, aflito.

 Pedro levantou-se trêmulo, e assim trêmulos - ele e o poodle-, os dois se encararam por alguns segundos, até que perceberam que podiam confiar um no outro.

 Então, Pedro abaixou-se lentamente e afagou o pêlo do cão com ternura.

- Tupã... – murmurou.
- Não, amor – quis corrigir a namorada – o nome dele é Fred.

E Pedro sorriu para si mesmo, como quem compreende algo que está muito além do que a namorada pode compreender.

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