quinta-feira, 24 de julho de 2014

Aqueles que nunca morrem


Ontem, no mesmo dia em que Ariano Suassuna morreu, ontem meu avô completou 84 anos. Há uma característica que os iguala, ou igualava: o insistente bom humor. Na filosofia de vida de ambos, há sempre espaço para um gracejo, mesmo que seja para tratar dos assuntos mais espinhosos e delicados.

Meu avô é um homem de histórias. De causos, como ele mesmo diz. Sei que cada vez que ele conta uma anedota antiga, está na verdade trazendo para aquele momento resquícios de outros tempos, e como uma particularidade: são sempre causos felizes. Raramente você o ouvirá se lamentando. Vejo nisso uma estratégia inteligente: se você não pode rir do presente, ria do passado.

Afinal, o importante é sorrir, porque a realidade que vale é a realidade que nós criamos.

Certa vez, Suassuna cravou a seguinte frase: “Os mentirosos são parecidos com os escritores que, inconformados com a realidade, inventam outras”. É uma frase que desnorteia o leitor, e depois o faz refletir. Na verdade, toda a literatura de Suassuna foi assim, desconcertante, como o ataque da Alemanha

Em outra oportunidade, o eterno imortal ainda diria o seguinte: "Tenho duas armas para lutar contra o desespero, a tristeza e até a morte: o riso a cavalo e o galope do sonho. É com isso que enfrento essa dura e fascinante tarefa de viver."

O riso.

O sonho.

É de pessoas assim que o mundo precisa. São essas as que realmente fazem falta.

Quem não se conforma com o que está posto, quem reinventa a realidade.


São essas as pessoas que nunca morrem.

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