quarta-feira, 3 de dezembro de 2014

O valor de um sanduíche de presunto


A morte do comediante Roberto Bolanõs nos pegou. Nos entristeceu coletivamente como poucas vezes eu tinha visto. Pude notar também que o que acometeu a todos, ou a quase todos, foi uma forma diferente de tristeza. Uma tristeza recheada de boas recordações, uma tristeza nostálgica até, com o gosto dos bons tempos de infância.

Principalmente por causa do seriado Chaves.

Isso me deixou pensativo: afinal, por que um seriado tão antigo, com episódios já exaustivamente repetidos, ainda é capaz de nos encantar tanto? Desconfio que sei a resposta. Chaves é um seriado com alma, com sentimento. Os personagens que nos fazem rir parecem quase de carne e osso, salvo, é claro, por causa de alguns exageros que dão graça à vila.

A miséria do pobre Chavo não é, em nenhum momento, acompanhada por pobreza de espírito. Ao contrário. Entre inúmeras trapalhadas, o menino do barril nos mostra sempre que, se por um lado lhe faltam melhores condições de vida; por outro, lhe sobram valores como amizade, pureza e companheirismo.

Uma das falas que mais me marcou está no episódio O Desjejum de Chaves. Ei-la:

Seu Madruga: Ora, o que é isso, Chaves, tá morrendo de fome? Será que não pode aguentar nem mais um minutinho?

Chaves: É que faz anos que eu tô aguentando...

Incrível como a felicidade pode custar tão pouco. Pode custar apenas um sanduíche de presunto. Fica a sensação de que nós - que temos a disposição tantos sanduíches quanto quisermos -, nós temos muito a aprender com o menino do barril.

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