sexta-feira, 13 de maio de 2011

Sexta-feira 13

 Jardel era um cara considerado normal, 30 anos presumíveis, pele clara. Mas, como de perto ninguém é normal, tinha Jardel suas manias. Manias pequenas, essas que todos têm. Mas talvez o que mais deveria chamar atenção em Jardel era algo que ele jamais permitiria que os outros percebessem nele.

 O fato é que Jardel era um supersticioso. Quando o Inter jogava, usava sempre a mesma meia, uma meia encardida do Mickey que ele estava usando no dia em que o colorado conquistou a Copa do Brasil em 92, quando ele ainda era criança.

 A superstição de Jardel ia além do fanatismo por um clube de futebol. Ele nunca entrava com o pé esquerdo em lugar algum, pelo motivo que fosse, e jurava para si mesmo que jamais deixaria cair ao chão um espelho e que nem na maior das emergências passaria debaixo de uma escada.

 É claro que a sexta-feira 13 tinha seu lugar garantido nas superstições de Jardel. Ele sabia que quebrar qualquer uma dessas regras nesse dia seria chamar pra si todas as maldições elevadas na enésima potência. Era um dia de cautela e prudência, portanto.

 Se pudesse, Jardel ficaria em casa nesse dia. Mas não podia. Os colegas do escritório iriam desconfiar. E as crendices de Jardel eram algo que ele jamais permitiria que os outros percebessem nele.

 Naquela sexta-feira 13, Jardel saiu de casa atrasado, convencido de que a culpa era daquele dia maldito que eram as sextas-feiras 13, e não do banho demorado que ele havia tomado. Ao dobrar a primeira esquina, o celular tocou.

 Era seu chefe.

“Jardel, tu esqueceu da reunião com os americanos?! Os gringos estão dizendo que vão embora! Precisamos fechar esse negócio!”

Céus, como ele havia esquecido? Jardel estava atônito. Sabia que seu emprego dependia daquela reunião, sabia que devia chegar logo, sabia que a prudência em cuidar de possíveis obstáculos o atrasaria mais...

Então, desatou a correr.

Correu, correu como não corria havia anos, correu como alguém a quem cada segundo é valioso. Correu sem se dar conta de quase ter atropelado um velinha, sem se dar conta do bando de passarinhos que ele havia espantado na calçada, sem se dar conta da escada que ele acabara de passar por baixo.

 Jardel já estava embaixo da escada quando percebeu o erro. Num impulso, como geralmente agem os seres humanos, parou em um segundo a corrida desabalada. Não sem consequências.

No momento da freada, seu pé derrapou pela calçada e bateu em cheio na escada, fazendo Jardel tropeçar.

Seu Jaime não saberia contar ao certo como tudo tinha acontecido, apenas lembrava de uma forte pancada na escada e de cair rapidamente com todas as suas latas de tinta em cima da cabeça de um rapaz que devia ter uns 30 anos mais ou menos, de pele clara.

Um cara normal, portanto.

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