sexta-feira, 8 de julho de 2011

Retrô - A televisão como aparelho ideológico

Texto que escrevi em julho de 2010.

Desde que surgiu, a televisão tem feito muitas vítimas, limitando a capacidade intelectual dos telespectadores e impondo-lhes a sua forma de pensar e agir. “Muito além de Cidadão Kane” desnuda a TV Globo e mostra como ela tem distorcido a realidade em várias ocasiões, de acordo com suas conveniências.

Alguns defensores da TV Globo dizem que a emissora foi “esperta”, nunca incomodando os governos para que nunca fosse incomodada. Opiniões assim não surpreendem vindas de uma sociedade onde o “esperto” é aquele que prospera, não importa quais meios sejam usados para isso.

Através da exposição dos campeões de audiência no Brasil, o documentário inglês traça o perfil do brasileiro típico: alienado, pobre culturalmente e ignorante. Infelizmente, essa é a imagem que exportamos. No exterior, quando ouvem o nome do nosso país as pessoas rapidamente pensam em futebol, carnaval e mulheres com os corpos expostos.

Nos últimos anos, porém, essa cultura vem dando lugar finalmente à credibilidade jornalística, ainda que lentamente. Na cobertura das eleições presidenciais de 2006, por exemplo, o Jornal Nacional exibiu uma série de entrevistas com os principais candidatos. De forma espantosamente neutra, elas foram incisivas e conduzidas com habilidade pelos apresentadores Wilham Bonner e Fátima Bernardes.

A ausência evidente de acertos com a acessória dos candidatos e o tratamento firme mas civilizado dispensado pelos entrevistadores foram um avanço do papel da imprensa em sua responsabilidade com a verdade.

Na última década, a TV Globo ganhou uma concorrente de peso. A TV Record, após pesados investimentos em infraestrutura, caras contratações de jornalistas, apresentadores e atores, além de brusca mudança na sua grade de programação, obteve um aumento de cerca de 500% na audiência, fixando-se em segundo lugar na preferência dos brasileiros.

Mas esse aparente fim do monopólio Global não pode ser comemorado. Embora ninguém tenha provas, até as pedras da rua sabem que os investimentos na TV Record foram financiados pelos cofres da Igreja Universal, o que é proibido por lei. Na sua programação a emissora exibe noticiários e novelas nos moldes Globais, além de “cópias” fajutas, como o programa “Legendários”, copia do “CQC”, da TV Bandeirantes e o reality show “Ídolos”, que era exibido no SBT com o mesmo nome.

A emissora do Bispo Edir Macedo mostra-se também “anti-católica”, dando ênfase a casos que envolvem padres pedófilos, pegando declarações fora de contexto e mostrando uma imagem negativa do Papa nos seus noticiários.

Lamantável, como quase tudo o temos visto na história da televisão no Brasil. Sonhemos, então, com um futuro em que a TV seja um órgão comprometido com a verdade. Sonhar não custa nada. Mas esse é também um clichê televisivo.

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