segunda-feira, 15 de agosto de 2011

A frieza dos números


Os números são frios. Frios e dissimulados, eu diria. Por isso eu escolhi a área das Ciências Humanas. Porque na Matemática, por exemplo, 2+2=4 é uma verdade irrefutável. O cálculo pode ser refeito mil vezes por mil gerações e o resultado será sempre o mesmo. É confortável assim.

Mas é sem graça também. Eu prefiro o que é mutável, instável, o que é humano. Vou provar como os números são frios. Compare:

A)“No Hospital de Clínicas, em Porto Alegre, há superlotação em quase todas as áreas. Na noite de ontem, faltavam leitos para cerca de 30 pessoas, que aguardavam nos corredores, algumas há mais de 3 horas.”

B)“Maria estava sentada, protegendo no colo o pequeno Thiago, de três anos. O menino ardia em febre, mas não podia repousar com conforto por causa da falta de leitos. ‘Ele é a coisa mais importante que eu tenho’, contou a mãe, que quando perguntada sobre a falta de leito, falou com voz fraca: ‘é como se a gente não tivesse dignidade, moço.’ E uma lágrima rolou em seu rosto magro.”

O segundo caso é o que mais mexe com as pessoas, embora fale de um único paciente sem leito. No exemplo A, as “cerca de 30 pessoas” tornaram-se apenas um número, por isso chega a passar despercebida a gravidade da situação e até a revolta que ela deveria causar.

É assim que é. Os números são frios. Frios e dissimulados. Como esse 88º lugar do Brasil em educação no Ranking da Unesco. Esse número passa despercebido, mas cara, a gente não pode deixar de se revoltar com a gravidade 

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