sexta-feira, 12 de agosto de 2011

Velha história


A história que eu vou contar agora, eu tive que montá-la juntando fragmentos, porque ouvi de três versões diferentes: da minha mãe, do meu pai, e da minha avó. Apesar disso, acho que juntando tudo dá pra saber com exatidão o que aconteceu naquela tarde de fevereiro de 1993.

 O tempo ameaçava chover quando meu pai chegou. Tinha sido uma tarde mormacenta, e uma estrondosa chuva de verão se preparava para desabar sob Igrejinha. Meu pai foi recebido com a cara de poucos amigos da minha avó, que então já sabia que ele era casado. Quando entrou no quarto, encontrou a minha mãe, provavelmente em uma confusão de sentimentos, julgada pela família, solteira, com um filho para criar, sem apoio, sem ter para onde correr.

E, claro, eu também estava lá, deitado, provavelmente dormindo, que é o que os bebês gostam de fazer, imaginem só, um Luis banguelinha e chorão, que ainda não sabia andar ou falar.

O que o meu pai falou, no entanto, não eram palavras de ânimo. Ele havia decidido não me registrar, porque a sua mulher poderia descobrir que ele a traíra, que ele tinha um filho fora do casamento, ia ser uma confusão. Prometeu mandar dinheiro sempre que pudesse, mas não me assumiria.

A minha mãe, assustada, jurou que me levaria para o Mato Grosso, ameaçou que ele nunca mais veria o filho, talvez tenha chorado, eu já vi a minha mãe chorando, você sabe como isso é terrível para um filho. O meu pai acuado, já tinha contra ele a minha avó também, que pediu para que ele nunca mais pisasse naquela casa.

Talvez ele ainda tenha dado uma olhada para o berço onde eu estava, talvez até me embalado no colo, mas aquela foi a última vez que ele me viu em vários anos.

Porque eu conto essa historia, que de certa forma é também a minha história? Porque por várias vezes na minha vida eu pensei nas conseqüências desse dia. Um gesto apenas, só o ato covarde do meu pai e tudo se desenrolou assim. É possível que ele tenha se arrependido, é justo que tenha chances de se reaproximar, como já teve, mas nada apaga o que foi feito.

Até hoje eu não sei de onde a minha mãe tirou forças para me sustentar e educar tão bem. Nos últimos anos a gente teve aquele afastamento que é natural, eu já conto muito mais as minhas coisas para a Camila ou os meus amigos, mas apesar de algumas palavras mal colocadas, amor eu sei que nunca faltou.

Por isso, nesse Dia dos Pais, eu tenho que ser justo e homenagear a pessoa que não deixou a peteca cair em nenhum momento, que trabalhou sempre, que me amou mais do que a si mesma e que ajudou a formar o caráter e a pessoa que eu sou hoje.

Mãe, essa é a primeira vez que eu termino um texto emocionado. Mãe, muito obrigado por ter sido pai e mãe durante tanto tempo.

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