sexta-feira, 19 de agosto de 2011

Os olhos de Mel (parte 1)


Mel era uma menina em tudo doce, em tudo meiga, em tudo suave. Talvez isso despertasse nos homens algum desejo mais forte, talvez os homens simplesmente dessem em cima dela porque, afinal, os homens dão em cima das mulheres mesmo.

Mas Mel repelia a todos. Mel, é importante que se diga, tinha uma característica que a diferenciava de todas as outras garotas da escola: era dona de estupendos olhos verdes. Sabe aqueles olhos em que você mergulha, se perde e quase se afoga? Pois é.

Então, quando Mel, que sempre rejeitava os homens com o mesmo desdém de um gremista recusando uma camisa colorada, quando Mel, com seus olhos de esmeralda, viu Toni pela primeira vez, ela teve a certeza de que aquele era o homem da sua vida.

E de fato, não tardou para que começassem a namorar. Toni era do tipo relapso, esquecia datas, quase nunca tinha dinheiro para presentes, mas Mel amava-o loucamente, e loucamente mimava-o com visitinhas surpresinhas, perfuminhos, massagensinhas, você sabe.

Depois de alguns anos, quando Toni começou a prosperar em sua vida de advogado recém formado, Mel decidiu ajuda-lo ainda mais. Pensava em filhos, em casamento, em viajarem juntos talvez, mas não, ela sabia que aquele era o momento de ajudar ao namorado.

E Mel o ajudou. Foi guerreira como só uma mulher pode ser. Deixou de comprar roupas novas, de arrumar-se, vivia para Toni. Os resultados apareciam. Depois de muito esforço, o advogado conseguiu comprar um apartamento no Centro da cidade para receber seus clientes, com livros de grandes lombadas, poltronas confortáveis, ar-condicionado e essas frescuras todas.

Mel animava-se por isso, mas sentia-se cada dia mais desanimada. Cada dia mais fraca, Mel adoecia lentamente. Toni saía cedo de casa e chegava tarde da noite, não tinha mais tempo sequer para fitar os olhos da amada, olhos que já haviam fascinado tantos homens e despertado tanta inveja.

Até que em um dia bonito de sol, o universo de Mel escureceu. A descoberta da leucemia parecia uma brincadeira de mau gosto, não era possível que ela, tão jovem, tão cheia de vida, pudesse estar em um estado tão avançado da doença, tão próxima do fim.

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