terça-feira, 7 de junho de 2011

Caminhos da ambição - capítulo 2

Ana acordou e sentou-se na cama subitamente. Respirou pesadamente por vários segundos até lembrar-se onde estava e as cenas do pesadelo que tivera se dissiparem por completo de sua mente. Não sabia que horas eram, mas tornou a deitar-se, sabendo que o melhor a fazer seria dormir, porque dormindo ela não sentiria o medo que se instalara em seus poros desde a morte do pai.

Sim, era medo o que ela sentia. Todas as lágrimas que ela derramara nas últimas horas, o desmaio que ela tivera ao chegar da escola e descobrir o que havia acontecido, o seu pesadelo. Todos aqueles sentimentos vinham do temor que ela sentia, do seu desamparo, da sua pena de si mesma por ficar órfã com apenas 17 anos.

Já fazia algum tempo que Ana estava descontente com os rumos que as coisas tomavam em sua vida. Mas só agora ela percebia como havia se preocupado com coisas sem importância. Tudo parecia tão pequeno à luz da morte do pai que ela sentiu uma fria onda de vergonha lhe formigando o corpo ao lembrar dos antigos problemas.

Mas um deles – talvez o maior de todos – voltou-lhe a mente com força. Os pelos de seu corpo arrepiaram-se por um instante, e a garota sentiu os mamilos em fogo roçando na blusa fina do pijama. Ana encolheu-se debaixo do lençol como se tentasse buscar um refúgio dos pensamentos que a atormentavam.

Como ela era capaz de pensar nessas coisas em um momento como este? Como um amor proibido podia invadir-lhe a mente enquanto o corpo do pai era velado na sala de sua casa, poucos metros abaixo de onde ela estava?

Ana encolheu-se ainda mais debaixo dos lençóis, enquanto as ondas de arrepio tornavam-se cada vez mais intensas.

Na cozinha, Matilde começava os preparativos para o café da manhã. Apenas dois ou três velhos conhecidos do finado continuavam na sala, conversando em um canto. Na certa que ficariam para o desjejum.

Matilde trabalhava há quase 20 anos naquela casa e sentia-se estranhamente contente naquele amanhecer primaveril. Não é que detestasse o patrão, apenas sabia que a vida iria melhorar dali pra frente e, afinal de contas, Deus sabe qual a melhor hora de cada um.

Um ranger no portão indicou a entrada de Paulo, que havia passado a noite fora. Quando o viu pela janelinha da cozinha, Matilde não pode evitar um sorriso maroto. Só ela percebia os olhares de desejo mal disfarçado que o rapaz lançava a tudo o que tinha valor financeiro naquela casa. Decerto que agora ele estava louco para colocar as mãos no dinheiro do finado Aníbal.

Mas Matilde, empregada de confiança há tantos anos, era a única testemunha do testamento que Aníbal fizera um ano antes. E era esse o motivo que a fizera sorrir.

A empregada mal podia esperar pela surpresa que Paulo teria quando o testamento fosse lido.

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