segunda-feira, 27 de junho de 2011

O bebê vai nascer

Josué desceu as escadas correndo, três degraus de cada vez. Derrapou no final e seguiu em desabalada, ganhando a calçada, que naquela hora estava quase deserta. Por mais que corresse, por mais que avançasse, por mais que procurasse ordenar os pensamentos, as palavras da mensagem de texto que ele recebera há poucos instantes ecoavam em sua mente, repetidamente:

“O bb vai nascer”.

Vai nascer! Meu Deus, talvez já esteja nascendo! E ele ali, com dificuldades para girar a maldita chave na maldita ignição do maldito carro. Consulta os bolsos antes de arrancar: talão de cheques, molho de chaves, celular, uma balinha de um centavo. Beleza. Tudo o que pode ser necessário.

O trânsito se agiganta. Como é possível ter tantos carros na rua a essa hora da noite? Josué se impacienta. Buzina. Grita com o cara do carro eu lado. Que abaixa o vidro, irritado. Irritado não. Irritada. É uma mulher.

- Só podia ser... – resmunga.

E segue. Acelera. Quase atropela um menino de bicicleta. Resmunga um palavrão. Que tipo de pai deixa o filho brincar na rua até tão tarde?

E seus pensamentos viajam em direção ao filho, o filho que ele esperou com tanta ansiedade, e que finalmente está chegando. Ah, quanta coisa ele vai ensinar, quantos causos ele vai contar. Já decidiu até o nome: César, como um dos imperadores romanos.

Sim, um nome de respeito. César não vai ser qualquer um. Vai ser o maior camisa 9 da história do Grêmio. Pegador, sempre com muitas namoradas, sempre fazendo festas, sempre contente...

As divagações de Josué se dissipam rapidamente. Acaba de passar o sinal vermelho. Menos mal que não tem ninguém no caminho, menos mal que o hospital já está perto, menos mal que César está chegando.

Sim, que beleza! Ele já sabe que vai ser um pai coruja. Mas sem encher muito de mimos e frescuras, que é pra não abichornar o guri. Já está tudo planejado. O primeiro passo é colocar o pequeno César na natação. Tem que ser cedo, desde bebê. Josué lera em algum lugar que os bebês são excelentes nadadores.

O estacionamento do hospital. Finalmente, finalmente! Josué está pronto para descer do carro, com o coração a mil, quando recebe mais uma mensagem de texto no celular:

“Não vai vir?”

E ele estaca, petrificado. Esquecera de pegar a mulher em casa.

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